:: JOVEM ::
As relações familiares são sempre delicadas e precisam ser administradas com cautela. O convívio entre pais e filhos, mudou significativamente nos últimos anos e, em muitos casos, tem sido possível identificar um fenômeno popularmente conhecido por “geração canguru”. Esse fenômeno caracteriza‐se por um prolongamento da convivência familiar, na qual jovens adultos que já concluíram a graduação universitária, possuem condições de independência financeira e de terem sua própria moradia, mas continuam morando na casa dos pais. O termo “canguru” é utilizado numa comparação desses jovens com o filhote do animal símbolo da Austrália que se agarra à bolsa protetora da mãe.
FONTE: Elídio Almeida
As relações familiares são sempre delicadas e precisam ser administradas com cautela. O convívio entre pais e filhos, mudou significativamente nos últimos anos e, em muitos casos, tem sido possível identificar um fenômeno popularmente conhecido por “geração canguru”. Esse fenômeno caracteriza‐se por um prolongamento da convivência familiar, na qual jovens adultos que já concluíram a graduação universitária, possuem condições de independência financeira e de terem sua própria moradia, mas continuam morando na casa dos pais. O termo “canguru” é utilizado numa comparação desses jovens com o filhote do animal símbolo da Austrália que se agarra à bolsa protetora da mãe.
Em vários momentos da vida pais e filhos se questionam sobre até quando devem viver sob o mesmo teto e isso pode gerar conflitos entre os membros da família. Para se ter ideia, antigamente, os meninos – e principalmente as meninas – só deixavam a casa dos pais para casar, pois os padrões familiares da época impunha essa condição. A partir dos anos 60, morar sozinho tornou-se um sonho de consumo dos adolescentes, pois era uma das maneiras de ter liberdade e viver as próprias aventuras. Hoje, devido a influências da modernidade, esses modelos não são mais frequentes. Algumas pesquisas indicam que mais da metade dos jovens não desejam sair da casa dos pais, pois em tempos de liberdade total, não faz mais sentido ter que se mudar para experimentar mais liberdade. Mas será que isso funciona bem em todas as famílias? Nem sempre, cada caso deve ser visto de forma individualizada levando em consideração o contexto de cada um.
Com a chegada da fase adulta, experimentar a autonomia e a sensação de ter a própria casa, sobretudo imprimir nela sua identidade e hábitos próprios, casando ou morando sozinho, pode ser fundamental para a pessoa construir sua independência e maturidade pessoal. Porém nem sempre os jovens e os pais vêem a situação dessa forma e vários motivos podem estar relacionados a este processo. Podemos citar, por exemplo, as exigências da sociedade em que vivemos, onde a felicidade está atrelada à posse de bens materiais e, por isso, muitos jovens adultos acabam retardando a saída da casa dos pais para poder poupar um pouco mais antes de alçar seus próprios voos. O risco deste modelo é a perda do limite entre o ideal e o possível, além de denotar uma vulnerabilidade frente às exigências da sociedade.
Outro ponto é a dependência emocional: tanto por parte dos pais quanto dos filhos. Alguns pais deixam (e desejam) que o filho permaneça em sua casa, temendo a separação e a distância. Muitos pais tentam suprir a ansiedade e a preocupação em relação ao filho controlando-o, e mantê-los sob vigilância acalma esses pais. Há os filhos que receiam encarar um lar solitário ou que ficam inseguros diante da perda da proteção direta dos pais. Isso pode significar lacunas no desenvolvimento pessoal tanto dos pais quanto dos filhos e pode demandar suporte extrafamiliar para encarar com mais facilidade as fases de desenvolvimento da vida. Em outros casos, os filhos podem optar por não trabalhar para se dedicar aos estudos. Investem na graduação, pós e mestrado para depois pensar em trabalhar, comprar seu próprio apartamento e sair da casa dos pais.
Obviamente todas essas situações podem ser encaradas de forma muito natural e sem prejuízos em algumas famílias, mas isso não é uma regra. Na maioria dos casos pode ocorrer acomodação tanto dos pais quanto dos filhos e acarretar prejuízos para todos. Observe que listei acima algumas razões que podem levar o jovem a prolongar sua estadia na casa dos pais. Em cada uma delas podemos verificar que pelo menos um dos envolvidos pode estar satisfeito com a situação, por exemplo: a mãe que é super protetora, sente se bem em ter o filho sempre sobre sua guarda ou, ainda, o filho que para poupar uma grana prefere morar na casa dos pais. Se isso for combinado e todos sentirem-se confortáveis com a situação, tudo bem. Agora imagine uma situação onde o filho deseja casar, morar só, mas vive sendo contagiado emocionalmente pelos pais, ou então se os pais sentirem se lesados por ter que bancar despesas de um filho que pode se manter sozinho? Se isso ocorrer, retardar a saída certamente pode trazer consequências ainda mais graves.
Analisar os efeitos da vida moderna e das constantes exigências da sociedade na vida pessoal de cada um, sobretudo na relação familiar, é muito importante para compreender e encontrar melhores formas de agir diante dos fenômenos. Na geração canguru, muitas vezes encontramos casos de jovens com a síndrome de Peter Pan, ou seja, que têm medo de crescer, pois não se sentem preparados para encarar a vida adulta. Em todo caso essa é uma situação muito preocupante, pois, pode gerar prejuízos não só no desenvolvimento pessoal quanto profissional. O ideal é que cada fase seja vivida de forma natural e sem prejuízos aos demais envolvidos. Lembrando que devemos levar em consideração as vantagens da modernidade em nossas vidas, mas, sobretudo, devemos ficar atentos para as consequências que esta modernidade traz para todos nós.
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